A decisão foi tomada à noite, durante as primeiras horas da madrugada, quando nada o fazia dormir e nada o fazia querer permanecer acordado. Para ele, nada mais tinha sentido desde que a vira chorar de solidão e melancolia e partir, para nunca mais voltar. 'E a culpa foi sua!' repetia para si mesmo a toda hora, 'sua, somente sua!'. Ele sabia que era verdade o que dizia para si mesmo, não se perdoava por isso e nunca conseguiria viver em paz sabendo o que tinha feito a ela. Mas mesmo assim a achava injusta. Chorar. O golpe mais desmerecedor de honra do que qualquer outro, o ato mais vergonhoso e indigno de confiança que alguém pode provocar para conseguir o que quer. Através do choro pessoas são enganadas da pior forma possível e o enganado nunca saberá a verdade por trás do rosto molhado de lágrimas venenosas e soluços que não querem dizer absolutamente nada.
Ele jamais pensaria que ela seria capaz de chorar para persuadi-lo a fazer algo, então, na última manhã que se viram, na manhã que ela foi embora para sempre, na manhã que ela chorou, ele não estava preparado para lidar com a situação que se seguiu e acabou com a vida dela, despejou-lhe palavras empregnadas de mentiras cruéis e maldosas que estavam fundamentadas em pura raiva. Ela tinha feito o que ele mais odiava no mundo, chorar.
Mas ainda a amava e dentro dele o remorso começava a florir e tudo começou a vir à tona. Não aguentava mais conviver com o próprio pensamento, se sentia muito mal por ter provocado aquilo tudo e chegou a conclusão que algo tinha que ser feito.
Depois de passar a noite acordado, ele se levantou, quando os primeiros raios de sol pintavam o horizonte, e foi direto tomar um banho. Saiu, com a toalha ainda enrolada na cintura, e foi até o armário pegar seu melhor terno, o armani preto. Abriu a janela para deixar os primeiros raios da manhã aquecerem o quarto enquanto se vestia e apreciava tudo ao redor como se fosse a última vez. Antes de sair do quarto pegou o objeto que mais o perturbava desde então e o colocou no cinto. Foi até a cozinha, já incrivelmente arrumado e perfumado, pegar algo para comer, uma única maça, a mais vermelha de todas, e saiu.
Chegou onde queria em menos de vintes minutos à pé, a cada segundo que se passava o coração acelerava mais um pouco com as idéias em seus pensamentos. Entrou e foi direto, sem erros, até o local onde descansava eternamente sua amada mulher, que tinha acabado com a vida com suas próprias mãos quando não foi correspondida como queria.
Ali, no cemitério, ajoelhado ao lado da lápide dela, todas as suas dúvidas sobre o que fazer se esvaíram de uma só vez, ele sabia que ela precisava de algo para descansar finalmente em paz e resolveu, em apenas um segundo, o que lhe daria.
'Não entrego-lhe as lágrimas desse meu choro, pois elas mentem, secam e diluem no espaço vazio do meu ser. Entrego-lhe meu sangue, que manchará para sempre a minha alma como prova de meu amor eterno.' Com isso ele retirou o belíssimo punhal de onde descansava em seu cinto e em um movimento simples e rápido o enterrou em seu peito, tirando-lhe a vida de forma silenciosa em um ato eterno de desculpas sinceras.
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